Jorge Brum do Canto



Nasceu: 1910-02-10 · Morreu: 1994-02-07

Local de nascimento: Lisboa
Local de óbito: Lisboa
Nacionalidade: Portuguesa
Dados adicionais:

Descendente de uma família com raízes aristocráticas flamengas e inglesas, estudou na Faculdade de Direito de Lisboa.
Inicia a sua actividade como crítico de cinema no «Século» a partir de 30 de Março de 1927, com dezassete anos de idade. Actividade que iria desenvolver no «Século Cinematográfico», página especializada criada no jornal a partir de 31 de Janeiro de 1928 e ainda na revista «Cinéfilo».
De 1932 a 1934 dirige uma interessante série de filmes docu-mentário «A obra da Junta Autónoma de Estradas». Em 1935 ingressa no profissionalismo (pela mão de Chianca de Garcia) no sector técnico da Tobis, no segundo filme da Tobis – «As pupilas do Senhor Reitor» como responsável pela planificação e assistente técnico de Leitão de Barros. É também Chianca de Garcia que o convida a trabalhar, em 1936, como assistente geral de «O trevo de quatro folhas», o primeiro filme de Chianca de Garcia, no fonocinema.
Em 1973 o grande público descobre-o como actor, em peças teatrais na RTP, onde faz, com grande sucesso: O grande negócio, de Paddy Chayefsky, dirigida por Artur Ramos; e Doze homens em conflito (fúria?), de Reginald Rose, dirigida por Artur Ramos. Ainda como actor voltaria à RTP em 1975 na série (Teledramático) Angústia para o jantar, baseada na obra de Luís Sttau Monteiro e dirigida por Jaime Silva.
“Critico no final dos anos 20, assistente de Leitão de Barros, revela-se clamorosamente com A Canção da Terra, filme que retrata, com inegável força, o drama da seca em Porto Santo e é um dos poucos que, nos anos 30 e 40, terão a ver com os problemas reais do País. A sua obra subsequente não confirma certas esperanças então despertadas. Técnica e formalmente cuidada, tanto o seu conservadorismo como uma linha de inspiração indefinida são derrotantes: passa, com notório à-vontade, do melodrama patrioteiro ao serrano, sobre fundo de conciliação de classes (João Ratão e Lobos da Serra), da rábula religiosa (Fátima, Terra de Fé) ao musical «à americana» (Ladrão Precisa-se). Após um interregno de sete anos, roda o seu filme mais ambicioso, mais perfeito e mais controverso: Chaimite. Essa epopeia de exaltação colonialista, centrada sobre a figura de Mouzinho de Albuquerque, tem a seu favor uma óbvia sinceridade que explicará porventura que um projecto tão reaccionário dê lugar a uma obra artisticamente consequente, relativamente pouco retórica e possuidora, não raro, de um impacto afim do que verifica em certos momentos de um John Ford (apoiada oficialmente mas não encomendada, só ao cabo de dez anos, com a eclosão da guerra, se lhe reconhece a ímpar importância propagandística no âmbito de uma cinematografia espantosamente tosca nesse campo: o filme será, aliás, difundido pela TV na véspera das «eleições» legislativas de 1969...). Após um novo interregno (mais nove anos) e a passagem falhada por duas adaptações literárias, o cineasta acomete um outro projecto ambicioso, reminiscente de míticas e germânicas parábolas, ao gosto da UFA e, em particular, de Luís Trenker: uma evidente espectacularidade não salva, no entanto, A Cruz de Ferro de ser aniquilado por um global anacronismo. Entretanto, e a partir de Chaimite, afirma-se como actor, culminando em excelentes composições dramáticas para a TV, já nos anos 70.”
“A terra e a luta pelo seu domínio são os temas fortes de Jorge Brum do Canto. A cidade é o seu tema fraco, a perdição de uma filmografia muito desigual. Não fez nenhum filme que resista à passagem dos anos ou a uma mais rigorosa análise. Mas A Canção da Terra representa o que de melhor realizou na sua primeira fase, tal como A Cruz de Ferro ficará, sem dúvida, como o termo da contribuição da primeira geração do fonocinema (Oliveira é um caso à parte) no que de positivo a cinematografia portuguesa tem. A Cruz de Ferro é, aliás, a sua redenção, se pensarmos nos desastrosos Retalhos da Vida de Um Médico e Fado Corrido ou ainda nesse equívoco espantosamente inábil que é O Crime de Simão Bolandas.
[...] Os méritos de Brum do Canto quedam-se, assim, mau grado a sua ética e visão social passadistas, mas que o orgulho da sua afirmação e uma incontornável força dramática tornam bastante relevante.”
[Fontes: Félix Ribeiro; Manuel Machado da Luz; Jorge Leitão Ramos; Salvato Teles de Menezes]

Participações [#97]