Porto da Minha Infância (2002)

M/12

62 min

Documentário  

Realização:  ·  Manoel de Oliveira

Argumento:  ·  Manoel de Oliveira

Com a liberdade de inspiração e o rigor de escrita que o caracterizam, Manoel regressa à sua cidade natal, a cidade do Porto. Ela já tinha inspirado o seu primeiro filme, Douro, Faina Fluvial, em 1931, e o filme que marca o seu regresso atrás da câmara em 1956, O Pintor e a Cidade. Nestas duas obras, Oliveira havia filmado aquilo que prendia o seu olhar. Em Porto da minha infância, ele escolheu filmar aquilo que já não existe e que só os olhos da memória, os olhos da "sua" memória, podem ainda ver. À imagem daquele primeiro plano onde uma orquestra invisível toca uma música misteriosa.
O Porto da infância, é ainda o Porto de antes do nascimento: uma cidade carregada de história, uma cidade de artistas e pensadores. E como que por um movimento em espiral, o filme desenvolve-se desde as ruínas da casa natal, à cidade do Porto, a toda a sociedade onde se trava a guerra dos sexos, na Europa. O último plano do farol que se abre sobre o infinito do mar e do mundo é a réplica, ou a rima se se quiser, a cores, do primeiro plano do primeiro filme do jovem Oliveira, setenta anos mais cedo... o Porto é também a cidade que viu nascer, depois de 1896, o cinema em Portugal...
Porto da minha infância é o filme de uma procura: fragmentos de lembranças, pegadas, testemunhos, marcas, bandas da actualidade, letras de canções, fotografias. Imagens de identificação por vezes incerta: estes dois homens que olham para a objectiva da câmara serão realmente os poetas Fernando Pessoa e José Régio? E esta mancha cinzenta? Essa sobre a qual a mão do realizador desenhou uma cabana, um pavilhão de jardim, será realmente a garagem onde o ele revelou o negativo do seu primeiro filme? Fumée de fumée, tout est fumée. A vida e a memória esfumaram-se. A voz da memória fala de uma garagem mas nós nunca vemos mais do que uma sombra, um fantasma. O passado é uma palavra em que se deve acreditar.
A casa natal desapareceu, a árvore da forca desapareceu... e as confeitarias, e o Palácio de Cristal, e a prima Guilhermina, o primeiro amor...
Por momentos, o filme da memória é tomado pela vertigem. Do camarote dos seus pais, Manoel, adolescente, assiste à opereta Miss Diable. O Manoel que vemos é, com efeito, o seu neto encarregado de o incarnar. Este observa em cena o Manoel que ele será oitenta anos mais tarde, o Manoel que ele é agora detentor do papel de um actor dos anos vinte, Estevão Amarante, que interpreta por sua vez o papel de um ladrão, que rouba o coração de uma mulher...
[Jacques Parsi, Agosto de 2001]

O documentário começa com um percurso pelas ruas do Porto antigo, numa viagem de carro, recordando o realizador Manoel de Oliveira um passeio que fez à noite, a seu pedido, teria 9/10 anos, regressava com a mãe a casa, depois de uma ida ao teatro. Da Batalha, descendo por 31 de Janeiro, Mousinho da Silveira, a Marginal até ao Cais da Pedra, subindo D. Pedro V...
O realizador recorda a cidade de então, através de fotografias e gravuras (de casas, lugares, públicos ou familiares - por ex., a pastelaria Oliveira onde ele sonhava ficar esquecido e sozinho para depois da hora do fecho comer todos os bolos que quisesse; o Palácio de Cristal e as suas exposições, de rosas na Primavera, ou de automóveis no Outono, as posturas de taxis, os trens de aluguer, as motas com side-car de aluguer, os eléctricos - etc.; lugares que desapareceram ou se transformaram), contrapondo depois ao que aquelas casas, lugares, etc. são agora.
Ao mesmo tempo evoca encontros, afectos, conversas, passeios, pelas ruelas da Ribeira e o seu "décor" nocturno fantasmagórico, os lugares da moda, o café Majestic ou o Rialto, a praia do Molhe, na Foz, onde a cidade ia a banhos ou passeava pela brisa da noite.
Passa depois para o Porto "do novo milénio", das pontes (da Arrábida, de S. João, do Freixo), que, apesar de "novo" continua a ser o Porto da sua infância.
[Fonte: Madragoa Filmes]

Videos [#1]:
  • [Trailer]
Equipa

Imagens [#3]:
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Dados Técnicos:
Cor | Dolby-SR | 35 mm | 1.66:1 |

Outras informações:
Editado em DVD e distribuído por Lusomundo Audiovisuais