Ala-Arriba! (1942)
Produção Rodagem: Jun 1941/1942
94 min
Realização: · Leitão de Barros
Argumento: · Alfredo Cortez
Adereços: · Armando Malveira
Anotação: · Estácio de Barros
Argumento: · Alfredo Cortez
Assistente: · Óscar Acúrcio
Assistente de Imagem: · Cândido Silva · Artur Bourdain de Macedo
Assistente de Montagem: · Regina Fróis
Assistente de Realização: · Óscar Acúrcio
Assistente de Som: · Mário Malveira
Assistente Geral: · António César dos Santos · Fernando Silva
Canções por: · Populares Poveiros
Caracterização: · António Vilar
Cenários: · Raul Faria da Fonseca
Decoração: · Américo Leite Rosa
Diálogos: · Alfredo Cortez · Alfredo Cortez
Direcção de Cena: · Arthur Duarte
Direcção de Fotografia: · Salazar Diniz · Octávio Bobone
Direcção de Produção: · Rodrigues Pinto
Direcção de Som: · Luís Sousa Santos
Fotografia de Cena: · João Martins (I)
Letra das Canções: · Augusto de Santa-Rita
Montagem: · Jacques Saint-Léonard
Música: · Ruy Coelho
Operador de Imagem: · Tavares da Fonseca
Outros: · António Santos Graça [Conselheiro Regional]
Produção: · Tobis Portuguesa
Realização: · Leitão de Barros
[Fonte: José de Matos-Cruz, O Cais do Olhar, 1999, p.65]
“Este filme e a atitude de Leitão de Barros, indo ao encontro do quase insuperável, merecem-nos respeito. Além dum saudável «mea-culpa» dos pecados cinegráficos do realizador, a película é também uma das raras penitências do cinema nacional. O que ficará são as Marias do Mar, as Canções da Terra, os Ala-arriba, tentativas mais ou menos felizes, mas feitas a sério. (…)
[Ala-Arriba] Não é um documentário de estética cinegráfica, mas sim um documento de etnografia e folclore. (…) Os actuantes, quanto menos ali representem, quanto menos actores e mais pescadores forem, melhor. (…)
Dum salto L. B. passou do lindíssimo folclórico do cravinho atrás da orelha para o seco e agreste relato da verdade. (…) Em Ala-Arriba procurou apenas dar-nos a verdade, uma verdade sincera sem interpretações subjectivas (dele como observador), sem as adulterar ou condicionar às naturais ambições de estilo. Isto é tão insistente que empresta à película, se excluirmos o recurso habilidoso ao «diseur» e à cigana convencional, como que uma pureza e uma ingenuidade inesperadas. Mas, integrando-se na etnografia, no curioso documento humano, limita-se, por isso mesmo, na função de obra de arte. Tem qualquer cousa de museu, de rigidez, hirta, catalogada. A verdade por isso não conduz à arte. (…)
Torna-se curioso cotejar os dois critérios de L. B. nos seus dois filmes de intenções de humanização: Maria do Mar e este agora. O motivo é o mesmo – o pescador e o Oceano. Deve até ter lutado para não se repetir. No primeiro há preocupação plástica, no segundo a de ser natural. O alar do lanchão, notável em ambos os filmes, é um exemplo da disparidade dos dois critérios.
A primeira película foi feita sob a influência estética do cinema russo de então. Em toda ela há intenção de estilo, de plástico, e contém passagens tão belas que se agarram à nossa retina para sempre. Além da onda humana dos pescadores no areal, temos ali o vendaval de dor que vergasta aqueles vultos negros de mulheres no alto da escarpa, e toda a galeria, um pouco parada mas brutal, das máscaras dos pescadores e das velhas que oram e choram, etc. Na película de agora tudo isso é menos decorativo, dado com uma objectividade que nos convence que é de facto assim, mas que nos sugere menos beleza. Se o dramatismo daquelas belas sequências se unisse à vibração e sabor de verdade com que foi dada agora a luta com o mar das embarcações batidas pela tempestade, então sim, teríamos um trecho pleno de poder estético e emotivo, arte e verdade unidas, servindo-se entre si numa obra-prima. L. B. tem talento para o fazer.”
[Roberto Nobre in Seara Nova, nº 789 de 26 de Setembro de 1942, p. 205]