Rasganço (2001)
100 min
Realização: · Raquel Freire
Argumento: · Raquel Freire
Mais informações: Website externo
Adereços: · Rui Alves
Anotação: · Jorge Cramez
Argumento: · Raquel Freire
Assistente de Imagem: · Edmundo Díaz Sotelo
Assistente de Realização: · Cesário Monteiro · Carlos Barreto
Caracterização: · Ana Lorena · Maria João Bleck
Direcção de Arte: · Paula Migalhada
Direcção de Fotografia: · Acácio de Almeida
Direcção de Produção: · Alexandre Valente · Diana Coelho
Guarda-Roupa: · Paula Migalhada · Lucha d’Orey · Isabel Branco
Montagem: · Rudolfo Wedeles · Vítor Alves
Produção: · Paulo Branco · Raquel Freire
Realização: · Raquel Freire
Som: · Vasco Pimentel
Paul Valéry
Coimbra, a mais complexa de todas as personagens, conta a história.
Coimbra:
Eu não sou uma cidade. Sou uma estufa. Uma reserva natural para estudantes, onde eles vivem em plena liberdade, como aquelas que há para animais frágeis, raros.
Em mim estão protegidos do mundo exterior.
Sou uma espécie de doce, entre a adolescência e a idade adulta. Mas só para os que estudaram para cá entrar. Os melhores.
Eles sabem que são uma elite. E que ninguém fica em mim para sempre...
Uma manhã de Janeiro chegou um homem.
Tolo, não percebeu que EU não sou para quem quer, mas para quem pode. E ele não fazia parte.
Subiu as minhas Escadas Monumentais, percorreu a minha Avenida das Faculdades, entrou na mais antiga e deparou comum "rasganço".
Este homem seduziu as minhas três mulheres: Ana Rita, estudante burguesa; Maria dos Anjos, a estudante que veio da aldeia; Doutora Zita Portugal, a ilustre directora. Todas o amam, nenhuma sabe das outras, ele adora aquilo tudo.
Mas não é o amor que abre as minhas velhas portas.
Neste auto, que se desenrola em forma de espiral de insecto encadeado pela luz, de maneira cada vez mais violenta, este homem vai sendo sucessivamente seduzido e rejeitado pelas pessoas, pelos sítios, pelos costumes, por todas as manifestações da minha intricada teia de fascínios e decepções, superiormente regida pela Universidade.
Excluído, usa símbolos para gritar o ódio contra mim, perverte-os. Veste o traje académico e rapta, viola, rasga no peito das estudantes os meus nomes...
A vingança quase me destrói.
Assanham-se os ânimos, as lutas estudantis em curso sofrem uma inesperada reviravolta, ninguém sabe quem é quem, ninguém confia em ninguém, nada é o que parece.
Enquanto ele, imperturbável, vai "rasgando" vítima atrás de vítima.
Animal ferido, o seu negro domina-o, até o tornar incapaz de fazer o que melhor sabe fazer: amar.
O rápido desfecho, como nas óperas de Verdi, dá-se em ambiente apoteótico de subida de Escadas Monumentais, com estudantes em festa para "rasgarem" cerimonialmente a jovem finalista namorada dele, denúncia silenciosa da parte da velha dama de impecável linhagem académica, e chamas devoradoras ateadas pela recatada Assistente Social da província.
[Fonte: Madragoa Filmes]