Roberto Nobre



Nasceu: 1903-03-27 · Morreu: 1969-09-27

Local de nascimento: São Brás de Alportel
Local de óbito: Lisboa
Nacionalidade: Português
Dados adicionais:

Escritor, jornalista, pintor, ilustrador de livros, crítico de arte e de cinema, realizador.
Exerceu as funções de chefe dos serviços de publicidade da «Singer». Afirmou-se como crítico de cinema, nomeadamente na revista Seara Nova, ousando, frequentemente, discordar do regime político vigente.
É o autor do primeiro grande estudo teórico português sobre cinema e a sua estética – «Horizontes do Cinema» – publicado em Portugal pela Guimarães Editores, em 1939. Em 1946, editou «O Fundo: comentários à Lei do Fundo de Cinema», que o regime, prontamente, mandou retirar da circulação. “Como pintor e ilustrador, foi um renovador da expressão estética, um modernista, influenciado pelo futurismo e pela estética dinâmica do cinema”.1)
“Figura marcante da arte e da cultura portuguesas, Roberto Nobre assumiu, como cineasta e sobretudo escritor, na vertente crítica e analítica, uma autoridade indiscutível, pela combatividade doutrinária e pelo vigor teórico.
A sua actividade foi particularmente significativa entre os primórdios do sonoro e o advento do cineclubismo, de modo especial em jornais ou em revistas. É ainda de destacar uma intervenção nas Terças-Feiras Clássicas do cinema Tivoli, em Lisboa (nos anos 40 e 50).
Enquanto caricaturista, Roberto Nobre retratou os seus pares no cinema – como o pioneiro Aurélio da Paz dos Reis, os actores Adelina Abranches e Duarte Silva, ou Reinaldo Ferreira, Nascimento Fernandes, Jorge Brum do Canto e Manoel de Oliveira.
O apelo criativo das imagens em movimento começara cedo para Roberto Nobre – que, por volta de 1920, era assistente Albert Durot; possuía, aliás, «uma sumária câmara Ernneman para as minhas experiências». Trabalhou, depois, com Artur Costa de Macedo.
Entre 1923 e 1925, Roberto Nobre realizou, em Olhão, Charlotin e Clarinha, uma farsa cómica em curta-metragem, que apenas foi revelada em 1972, no Festival de Santarém. Embora despretensiosa, sobressai uma carga expressiva de total irreverência.
De salientar, por outro lado, a alta qualidade da fotografia e o partido tirado da movimentação perante a câmara. Surpreendendo um certo exotismo, a sátira subtil aos tiques sociais em voga, um deliberado gozo ao melodrama e ao falacioso romantismo.
Quanto ao legado bibliográfico de Roberto Nobre, destacam-se Horizontes de Cinema (1939, 1971) – «alguns aspectos essenciais da doutrina»; e Singularidades do Cinema Português (1964) – um panorama histórico de abordagem pela «opinião individual».
O pensamento desassombrado e precursor de Roberto Nobre sobressai em Crítica de Cinema, capítulo do Anuário Cinematográfico Português (1946): «Entre as críticas das várias Artes é a crítica de cinema aquela que, em geral, vejo fazer mais ligeiramente, e ela afigura-se-me tanto ou mais complexa que as outras. Não é isto apenas pelas específicas qualidades intelectuais do crítico, mas também pelas dificuldades práticas do próprio acto de crítica».
«Não basta ser sincero e impessoal, e ter uma cultura genérica. É necessário um amplo conhecimento material da “coisa” cinematográfica, complexa, multimoda e volúvel. Além da cultura artística, ela obriga a uma prolixa variedade de conhecimentos técnicos, verdadeiros segredos da alquimia dos estúdios e laboratórios, abrangendo especializações tão restritas que raros podem, em consciência, afirmar dominá-las a todas.»”.
[Fonte: José de Matos-Cruz]
1) - Ver: DUARTE, Fernando, “Apontamentos para uma biografia de Roberto Nobre”, in Celulóide, nº225, Maio de 1976, pp. 1-14

Participações [#3]