Scanning (2005)

12m 50s

Enquadro em grande plano fixo a partir da janela do meu atelier os cabos de uma grua em obra, instalada na encosta da rua do Alecrim. No limite direito do enquadramento uma outra grua em obra, irrompe inesperadamente neste plano, entrando em campo cada vez que o seu braço metálico, ao girar, trabalha nesta direcção.
Dois movimentos de grua nos limites do plano; o dos cabos que vão varrendo a linha do horizonte, colhendo à ida e volta o leito do rio e o braço metálico que quando se mexe da direita para a esquerda, entra em campo no plano.
O grande plano fixo capta o tempo que se demoram dentro e fora de campo.
De cada vez que o braço metálico da grua entra em campo pela direita do plano há um corte abrupto na imagem e surge um negro. O intervalo negro dura o tempo que o braço da grua se demora, enquanto trabalha da direita para a esquerda, entrando no plano, atravessando-o. Nalguns momentos pára, recomeça a mexer e sai.
A duração dos vários intervalos negros que interrompem a sequência de acontecimentos capturados em plano fixo, correspondem rigorosamente à intrusão do braço da grua enquanto entra e sai do plano.
Duração, intervalo e corte estão deste modo ligados ao funcionamento das máquinas-gruas que no decorrer da obra agem nos limites do enquadramento do plano fixo, sobre o tempo do acontecimento nele capturado.
Enquanto isso acontece a minha respiração junto à janela de onde filmo embacia os vidros.
Uma poalha branca de luz espalha-se pelo leito do rio junto ao lado de lá.
Algures aí, um intermitente foco luminoso entra em campo e permanece nele por algum tempo.
Ficou uma nuvem de névoa suspensa ligeiramente acima e à direita da imagem.
A poalha branca é agora mais nítida na superfície do rio.
Os cabos voltam a agitar-se sem sair do sitio.
Varrem o rio até à ponta esquerda do grande plano. Param.
Neblina a dissipar-se no vidro entre nós e o horizonte.
O leito do rio mexe agora, nítido, a descoberto da névoa. Destapa-se a Arrábida.
Cabos saem de campo pela esquerda.
Intensa luz como que vinda do fundo, larga de cá para lá, avançando em toda a extensão do leito do rio.
Corte.
[Sérgio Taborda]

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