Como seria o corpo do primeiro rei de Portugal, D. Afonso Henriques, figura tutelar, alvo de mitificações sucessivas no decurso da nossa História?
"Onde termina o legado da história e começa a aventura da sua representação? Eis uma pergunta que nos pode conduzir a uma hipótese tão radical quanto fascinante: não há história que não seja representação.
A questão não é meramente teórica, já que se insinua em todas as formas (sociais, simbólicas, narrativas) do nosso viver. E no contexto tão particular de Guimarães 2012 envolve uma frondosa certeza: a de que a herança histórica da cidade se expõe e reinventa na dinâmica do presente.
Integrado na série de filmes (de meia hora de duração) produzidos no âmbito da Capital Europeia da Cultura, O Corpo de Afonso, de João Pedro Rodrigues, prolonga de forma peculiar a sua démarche global. E não exactamente por nos remeter para as imagens do primeiro rei de Portugal, tema transversal a diversas produções do nosso programa; antes porque o faz a partir da observação metódica de um casting para encontrar um actor.
Vale a pena sublinhar a singularidade de tal aproximação. Sobretudo porque, hoje em dia, tantas vezes a especificidade do cinema é confundida com a proliferação dos efeitos especiais. Em boa verdade, apetece dizer que a presença humana é sempre o mais sofisticado efeito especial. E também uma prova eloquente do poder de representação do cinema."
[João Lopes]